As coleções

As Coleções

As coleções do Museu são constituídas por uma síntese representativa de vários centros cerâmicos portugueses e estrangeiros, desde o século XVI aos nossos dias. Predomina a produção local, desde as formas oláricas e a produção artística do século XIX, com autores como Manuel Mafra, introdutor neste centro do estilo naturalista de Bernard Palissy, até às criações contemporâneas de alguns ceramistas caldenses, como Ferreira da Silva ou Eduardo Constantino.

Merece destaque a notável evolução de peças da autoria de Rafael Bordalo Pinheiro, executadas na Fábrica de Faianças de Caldas da Rainha, bem como a produção “Arte Nova” de Costa Motta Sobrinho. Mostram-se ainda núcleos de azulejaria, assim como de miniatura, com destaque para as obras de Francisco Elias.

O Palacete e os Jardins de traçado romântico, decorados com azulejaria e elementos cerâmicos, merecem igualmente uma detalhada visita.

           

            Busto 3º Visconde de Sacavém . Joseph Füller .                               Atelier Cerâmico (1892–1896) . Inv. MC 675

 VISCONDE DE SACAVÉM

Antiga sala de jantar do Visconde, está decorada com painéis de azulejos holandeses dos séculos XVII/XVIII. Aqui se apresenta uma síntese representativa de vários centros cerâmicos portugueses e estrangeiros. Da produção portuguesa, estão representados exemplares de Viana do Castelo, Miragaia, Coimbra, Lisboa, Juncal e Estremoz; de produção estrangeira, destacam-se exemplares de França, Inglaterra, Itália, Espanha e China.
Nesta sala, destacam-se, entre outros, o “Grupo Mitológico” de Clodion (1738-1814), uma taça de Majólica italiana do século XVI, um “Busto de Criança”, executado no Atelier Cerâmico, pelo escultor austríaco Joseph Füller (1861-1927), retratando o 3º Visconde, José Manuel Pinto Sacavém (1894-1973).

       

                      Floreira . Real Fábrica do Rato .                                     Depósito da Câmara Municipal das Caldas da Rainha

FAIANÇAS DA REAL FÁBRICA DO RATO

Sala decorada com silhares de azulejos portugueses de finais do século XVII e com azulejos holandeses dos séculos XVII e XVIII no revestimento da lareira. Neste espaço se apresentam peças da Real Fábrica de Louça, ao Rato, dos primeiros anos de produção, considerado o período mais brilhante, faiança que revela influências orientais e europeias (França, Inglaterra, Holanda e Itália).
Por esta época, grande número de peças passou a ser autenticado com a marca de fábrica ou com o nome do fabricante. A indústria cerâmica era então ativada pelas reformas do Marquês de Pombal, 1º Ministro do rei D. José, que apoiou e criou novas indústrias, entre as quais a Real Fábrica de Louça, ao Rato, em 1767, em Lisboa, junto à Fábrica das Sedas.
Deste centro fabril saiu a linha orientadora que transformou e definiu a cerâmica dos séculos XVIII e XIX. Várias fábricas se estabeleceram por todo o país, dirigidas por mestres formados na Fábrica do Rato, no entanto, assumindo as características regionais, como Coimbra, Juncal, Porto, Viana e outras.

            

           Talha com cobras . Atribuído a Adelino Soares Oliveira .                           Inv. MC 2042

OLARIA

Na antiga cozinha do Palacete, mostra-se a tradição cerâmica das Caldas da Rainha. Remonta provavelmente à época do Neolítico, mas só se encontra documentada a partir de 1488, após a fundação do Hospital Termal o qual esteve na origem da criação da Vila.
A presença de oleiros na povoação está comprovada documentalmente, revelando uma atividade cerâmica significativa, nos séculos XVI e XVII, e que teve continuidade.
Nesta dependência expõem-se peças de olaria da região das Caldas da Rainha, do século XVI ao XX, que se destacam pelos característicos vidrados verde-garrafa e castanho cor de mel.

 

  

  Serviço: Cobras . Francisco Gomes de Avelar . Século XIX .         Inv. MC 314 a 318

    CERÂMICA DAS CALDAS

No século XIX, a atividade cerâmica assume características especiais nas Caldas da Rainha, com as produções da barrista Maria dos Cacos, autora de peças utilitárias antropomórficas, e de Manuel O Mafra, ceramista protegido do Rei consorte D. Fernando de Saxe Coburgo Gotha (1816-1885). A produção de Manuel Mafra evoluiu para modelos mais elaborados, inspirando-se na produção naturalista das escolas francesas de Paris e de Avisseau, herdeiras do estilo do ceramista francês da Renascença, Bernard Palissy, e que Manuel Mafra conheceu, através da coleção de D. Fernando.
Destacou-se pela produção de peças decoradas com motivos da natureza - répteis, peixes, frutos, folhas - sobre fundos de musgado ou areado, destacando-se das formas da olaria tradicional e constituindo-se como fonte de inspiração para o desenvolvimento da obra de Rafael Bordalo Pinheiro.

 

                     

                  Figura de movimento: Zé Povinho .                              Rafael Bordalo Pinheiro . 1895 . Inv. MC 232

FÁBRICA DE FAIANÇAS DAS CALDAS DA RAINHA

RAFAEL BORDALO PINHEIRO 

A criação, em 1884, da Fábrica de Faianças de Caldas da Rainha, dirigida por Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905), com maquinaria moderna e formação dos operários, constitui o culminar da forte tradição cerâmica local. Bordalo Pinheiro foi caricaturista e ilustrador, dedicando-se à cerâmica aos 38 anos de idade, ao assumir a direção artística da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha. Realizou uma vasta e criativa obra cerâmica, nos estilos naturalista, historicista e Arte Nova.
Cultivou a ironia e o humor, através da cerâmica, satirizando personagens e situações da vida política e social portuguesa. Teve grande sucesso nacional e internacional, participando na Exposição Internacional de Paris de 1889. Apesar da qualidade artística, a Fábrica de Faianças enfrentou problemas financeiros e foi à falência em 1906, no ano seguinte à morte de Bordalo, tendo sido vendida em hasta pública.
A nova administração entregou a direção artística da Fábrica ao escultor Costa Motta Sobrinho que, entre 1908 e 1916, realizou uma notável obra cerâmica, caracterizada, sobretudo, pelas formas despojadas e vidrados metalizados.

         

   Milagre das Bilhas . Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro .   1912 .  Inv. MC 7

  MANUEL GUSTAVO BORDALO PINHEIRO

Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro (1867-1920) foi o principal colaborador e continuador do seu pai, Rafael Bordalo Pinheiro. Manteve o estilo naturalista da cerâmica tradicional, mas introduziu modelos com linhas mais modernas e despojadas, nomeadamente, na vertente Arte Nova.
Após a morte de Bordalo, Manuel Gustavo, com o apoio de alguns dos seus operários, em 5 de novembro de 1908, fundou uma nova fábrica denominada Fábrica Bordalo Pinheiro, dando assim continuidade à obra de seu pai.

  

 Suspensão: Guitarra . Atelier Cerâmico (1892–1896) . Inv. MC 453

      ATELIER CERÂMICO


Fundado pelo 2º Visconde de Sacavém, José Joaquim Pinto da Silva (1863-1928), o Atelier Cerâmico foi uma pequena oficina que funcionou no recinto da Quinta Visconde de Sacavém - atual Museu da Cerâmica - e na qual se produziram, a par de peças artísticas, elementos arquitetónicos que ornamentam as fachadas do Palacete. Foi diretor artístico o austríaco Joseph Füller (1861-1927) e teve a colaboração de ceramistas como Avelino Belo, discípulo de Rafael Bordalo Pinheiro.
A oficina laborou apenas entre 1892 e 1896, altura em que foi encerrada, sendo transferida para a Rua do Sacramento à Lapa, em Lisboa, para ser produzida a decoração cerâmica do Palacete do Visconde, na capital.

   

      Jarra . Costa Motta Sobrinho . 1912 . Inv. MC 1046

    COSTA MOTTA SOBRINHO


Entre 1908 e 1912 a Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha foi dirigida pelo Escultor Costa Motta Sobrinho (1877-1956).
Costa Motta Sobrinho foi precursor na inovação do design da cerâmica decorativa portuguesa e um representante da Arte Nova no nosso país. Reutilizou a cerâmica caldense, colocando-a a par da mais moderna produção europeia.
A obra cerâmica de Costa Motta Sobrinho revelou-se original e inovadora no gosto erudito, na qualidade técnica que imprimiu aos processos de fabrico e na proposta de modelos e formas decorativas que acompanhavam os circuitos artísticos internacionais.
As suas cerâmicas constam de algumas peças que se aproximam da tradição naturalista oitocentista. As peças decoradas são frequentemente formadas por corpos sóbrios e elegantes. As decorações são bem integradas e harmoniosas, por vezes discretas e de uma assumida modernidade.

 

     

          Os Bêbados. Miniatura. Reprodução do quadro de Malhoa .                                            Francisco Elias . 1922 . Inv. MC 614

MINIATURAS EM BARRO

A miniatura foi um género desenvolvido na Fábrica de Faianças, por um dos seus operários, Francisco Elias (1869-1937), discípulo de Bordalo Pinheiro, que representou, além de peças inspiradas na ourivesaria quinhentista, várias figuras e tipos populares em barro usando dimensões ínfimas e, posteriormente, dedicou-se a esta especialidade em oficina própria.

Destacando-se também neste género, e inspirado por Francisco Elias, José da Silva Pedro (1907-1981), natural de Maceira-Liz (Leiria), antigo operário modelador cerâmico da Fábrica de Louça de Sacavém, realizou uma vasta obra inspirada em motivos arquitetónicos e populares, reproduzindo alguns momentos e trechos de quotidiano popular português.

 

             

 Jarrão . POOLE (Inglaterra) . Século XX . Inv. MC 3334

 

 

 

 

 

CERÂMICA CONTEMPORÂNEA

 

 

 

 

 

 

Este espaço acolhe uma mostra de peças de cerâmica contemporânea, produzida entre os anos 50 e os nossos dias. Na primeira sala, encontra-se um núcleo de peças da Secla, fábrica criada em 1947, nas Caldas da Rainha, para responder ao aumento de encomendas e ao renascimento do comércio externo, que marcou o período após a II Guerra Mundial. Esta unidade iniciou uma política de aproximação a artistas consagrados de origem nacional ou estrangeira, incluindo na sua produção modelos de nomes como Hansi Stäel, António Quadros, Júlio Pomar, Ferreira da Silva, Herculano Elias, entre outros.

Estes modelos, produzidos em tiragens reduzidas e comercializados em exemplares únicos ou industrializados imprimiram um estilo renovado à produção corrente de louça utilitária. Novas peças elucidativas do percurso da cerâmica mundial do século XX, contemplando tanto a vertente industrial, como peças de design e de autor, provenientes dos principais centros de fabrico mundiais, encontram-se nesta sala, homenageando e relembrando a generosidade do seu doador, Francisco Coutinho Carreira, que nasceu em Alvorninha, no concelho de Caldas da Rainha, que quis partilhar com o Museu e com o seu País, os valiosos objetos de arte que, carinhosa e criteriosamente, recolheu ao longo de toda uma vida. Obras da Alemanha, Itália, Dinamarca e Suécia, Suíça, Inglaterra, França, Holanda, Finlândia, Estados Unidos, Canadá, Japão podem ser admiradas.
A relevância da coleção enquanto testemunho histórico, artístico e sociológico do mais significativo que em cerâmica se produziu no final do século XIX e no século XX, bem como o facto de se tratar de um conjunto único a nível do país, confere ao Museu da Cerâmica um estatuto de referência nacional e internacional.
Na continuação desta sala podem-se admirar peças de autores contemporâneos, tais como Eduardo Constantino, Ferreira da Silva, Francis Behets, Armando Correia, Bela Silva, Ilda Bragança e Emídio Galassi. Mostrando-se ainda painéis de azulejos da autoria de Manuel Cargaleiro.

 Painel de azulejos . Manuel Cargaleiro. 1985 . Inv. MC 1846

AZULEJARIA

No Museu da Cerâmica, a par de painéis setecentista e de exemplares produzidos no Atelier Cerâmico, que funcionou no local (1892-96), pode-se apreciar um vasta coleção de padrões recriados por Rafael Bordalo Pinheiro e outros produzidos por seu filho, Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro.

Do Século XVII/XVIII, painéis de padrão pouco vulgar, com uma decoração constituída por uma alternância de cruzes e florões com cercaduras de motivos vegetalistas em manganês e padronagens de parras.

Painéis figurados, painéis joaninos com cenas e cidades portuárias, caçadas e paisagens exóticas, envolvidos por molduras com concheados e asas de morcegos revestem grande parte das fachadas exteriores do Palacete.

Azulejos portugueses de figura avulsa, de gramática decorativa variada, tais como: figura de fidalgo, ave, coelho, leão, barco, todos com ornatos nos cantos, formados por quatro pintas em disposição de cruz, com traços finos que se intercetam, são pintados com esbatimentos ou aguados a azul cobalto sobre esmalte branco.

A produção holandesa do Século XVII/XVIII de figura avulsa, encontra-se representada nos lagos do jardim e no interior do Palacete, por pastores, jogos infantis, cavaleiros, paisagens (casas, moinhos, fontes, barcos) em manganês e azul cobalto sobre fundo branco, revelam uma técnica e desenho cuidado, bem ao gosto dos holandeses.